Acenos despretensiosos sobre a Vida Religiosa Consagrada

Frei Oton da Silva Araújo Júnior, ofm

Em preparação à Assembleia Geral Eletiva da CRB Nacional de 2022, juntamente com as reflexões sociopolíticas e eclesiais, a equipe preparatória achou por bem haver uma reflexão sobre a Vida Religiosa Consagrada. Sem dúvida, haveria pessoas mais experientes e competentes para apresentar algo do gênero, mas como estamos entre irmãos e irmãs, o que segue não tem caráter definitivo nem pretende ser mais do que uma provocação, o início de uma conversa. A proposta é tomar o texto e pensar: “é assim conosco? Que elementos ficaram de fora?”.

Quando usamos no título a palavra ‘despretensiosos’ não é por recurso retórico, nem tampouco uma falsa modéstia para nos esquivar. Temos consciência de sua limitação e provisoriedade. As ideias aqui apresentadas não são fruto de dados estatísticos, por isso, não pretendemos mensurar de forma objetiva o que apresentamos.  Uma pesquisa no rigor necessário poderia indicar os dados com mais precisão.

Mas afinal, como chegamos aos elementos que apresentamos? Conversando, pedindo a religiosas e religiosos amigos que partilhassem conosco suas impressões, ora de forma individual, ora em grupos, por ocasião de algum encontro. Algumas pessoas nos enviaram apontamentos escritos. Nosso serviço, desse modo, é uma tentativa de organizar as opiniões recebidas, e não tanto o de formular um juízo a respeito. Agradeço com carinho quem se dispôs a colaborar.

O Papa Francisco gosta de usar a figura do Poliedro como ilustração da complexidade da realidade, mas que pode ser vista por diferentes ângulos (Cf. EG 236; FT 144;145). Ele disse assim: “várias vezes já convidei a fazer crescer uma cultura do encontro que supere as dialéticas que colocam um contra o outro. É um estilo de vida que tende a formar aquele poliedro que tem muitas faces, muitos lados, mas todos compõem uma unidade rica de matizes, porque o todo é superior à parte” (Fratelli Tutti, n.215). Pois bem, vamos tomar esse poliedro da Vida Religiosa e girá-lo nas mãos para vê-lo de diferentes ângulos.

Sobre as vocações

A constatação imediata é que as vocações diminuíram consideravelmente para muitos institutos (nessa oportunidade, vamos padronizar a Vida Religiosa por essa palavra). Muitas pessoas já apresentaram esse dado ligando-o à secularização, à diminuição do número de filhos, à falta de contato das famílias com a prática religiosa, enfim. Se diminuem os jovens, o grupo fica envelhecido e as poucas pessoas disponíveis acabam sobrecarregadas pelo peso institucional. Aumentam as parcerias e a necessidade de delegar a condução das obras aos leigos e leigas. Muitas presenças têm sido encerradas em decorrência da diminuição do número de religiosas (os), o que costuma entristecer sobretudo quem trabalhou nesses lugares.

Muitas (os) jovens que nos chegam vêm com um grande histórico de sofrimento. Infelizmente, a realidade do abuso de diferentes tipos, as agressões e abandonos fazem parte da história de muitas crianças e jovens, bem sabemos. Em geral, as novas gerações estão mais abertas para falar de temas ligados a seus afetos e vivências sexuais anteriores. O papel de acompanhar alguém assim será o de reumanizar, reestruturar a pessoa, para que seja senhora de si, mesmo que isso implique numa reopção de vida. A casa religiosa costuma cumprir bem esse papel.

Ao ouvirmos alguns formadores e formadoras, foi bastante comum mencionarem o déficit no processo de iniciação cristã. “Temos de ensinar o Be-a-Bá. O conhecimento e a vivência religiosa são muito precários” – alguém partilhou. O encontro com a pessoa de Jesus e seu projeto (cf. Evangelii Gaudium n.3) nem sempre é um pressuposto.

Algumas pessoas com as quais conversamos destacaram a mudança no ambiente vocacional. Se antes a inserção numa comunidade eclesial era um fator natural para o ingresso na Vida Religiosa, agora muitos a buscam diretamente de casa, sem terem uma participação na Igreja. Certamente os meios digitais influenciam nesse contexto. Os institutos que têm investido em acompanhamentos on-line levam vantagem, pois atingem melhor os jovens do que aqueles que se fixam somente no acompanhamento presencial. Estamos convencidos de nada substitui o acompanhamento presencial, mas as novas possibilidades on-line não devem ser negligenciadas como complementares do processo.

Também pela mídia digital os jovens têm acesso a vários formadores de opinião, de diferentes ideologias religiosas (para usar uma palavra do momento). Em muitos casos, o seguimento desses youtubers religiosos continua, mesmo depois da entrada na casa de formação, podendo ocasionar um conflito entre as recomendações da comunidade formadora e o que aprendem pela internet. A dependência das mídias digitais é um fator importante, que atinge não somente os jovens, mas a todas as idades.

A faixa etária dos vocacionados e vocacionadas está mais alta. Antes de ingressar na Vida Religiosa já gozavam de independência financeira. Muitas já passaram por vários institutos, e chegam ‘escaldados’ pelas experiências anteriores. Muitos (as) jovens se mostram abertos a fazer esse novo caminho, enquanto outros (as) assumem uma postura de quem já sabe, o que dificulta o acompanhamento por parte dos formadores e formadoras.

O apelo estético tem uma grande relevância para a juventude. Assim, celebrações grandiosas, roupas exuberantes, gestos padronizados, cantos irretocáveis… costumam atrair mais que o compromisso ético de engajamento pastoral junto às periferias, por exemplo. Em nosso modo de ver, não deveria existir uma contraposição entre uma coisa e outra, mas nem sempre se percebe uma harmonia entre o ético e o estético. Acrescente-se a isso uma tendência conservadora e moralista em muitos jovens nas casas de formação. Ouvimos de alguns formadores (as): “nossos (as) formandos (as) são mais conservadores que nós”. Nem sempre é clara a distinção entre a radicalidade evangélica e o radicalismo das formas. A esse respeito, vale recordar, mais uma vez o Papa: “Compreendo aqueles que preferem uma pastoral mais rígida, que não dê lugar a confusão alguma; mas creio sinceramente que Jesus Cristo quer uma Igreja atenta ao bem que o Espírito derrama no meio da fragilidade: uma Mãe que, ao mesmo tempo que expressa claramente a sua doutrina objetiva, não renuncia ao bem possível, ainda que corra o risco de sujar-se com a lama da estrada” (Amoris Laetitia, n. 308).

Alguém nos indicou a dificuldade de conciliar diferentes eclesiologias, sobretudo no processo vocacional: “Não podemos dizer que não temos candidatos (as), mas falta-nos abertura, equilíbrio entre abertura e proposta carismática. O carisma é dom do Espírito, é vento, fogo; enquanto a instituição é obra humana que muitas vezes paralisa, amortece o ardor e não deixa que a força dos processos formativos tenha novas expressões”.

Por fim, cabe sempre um questionamento a respeito de como é interpretada e vivida a consagração definitiva na Vida Religiosa. Causa espanto o número de jovens que deixam os institutos meses após os votos perpétuos, ou terem sido ordenados. Para alguns, “as novas gerações, não estão ainda com os dois pés dentro dos Institutos e das formas tradicionais de vida comunitária-fraternidade e sororidade”.

A convivência entre as gerações

Um dos chavões do Ano da Vida Religiosa (2015) foi o de ver o passado com gratidão, o presente com paixão e o futuro com esperança. Reverenciar o passado não se limita ao elogio dos fundadores e fundadoras, mas também ao reconhecimento das pessoas que vieram antes de nós, e que ainda estão conosco, moram conosco. A imagem do “netinho que quer corrigir a vovó” parece também se aplicar em muitas realidades da Vida Religiosa. Há certos imediatismos e dificuldade em vivenciar devidamente os processos. Ao mesmo tempo, cabe aos mais experientes reconhecer as mudanças propostas por quem chega. Nem sempre essa integração é tranquila.

Têm sido frequentes as queixas de que muitas relações têm-se dado de forma desumanizadora, em que o poder e o autoritarismo se fazem presentes para além das pessoas e seus contextos: “Um bom número de Congregações mantém uma disciplina interna que dificulta e muito a acolhida de jovens que vivem experiências de lideranças nos grupos juvenis, trabalho e comunidades e, quando chegam nas casas de formação, são tolhidas e muitas vezes infantilizadas”.

Ainda ligado às gerações, temos de fazer memória do que foi a Vida Religiosa inspirada pelas Conferências de Medellín e Puebla (lembrando que a Conferência de Aparecida completa 15 anos em 2022). Foi o momento de valorização das comunidades, de inserção nos meios populares e da redefinição das obras em vista da acolhida dos mais pobres. O protagonismo, a animação, os ideais desse período importante para a Igreja não podem ser esquecidos, mesmo que os contextos tenham mudado.

Sobre o período que se seguiu, houve quem relembrasse: “Retornamos à grande disciplina, a inserção foi perdendo força, a formação retornou a ambientes mais fechados e longe do povo, as estruturas começaram a pesar nos ombros das novas gerações, a diminuição de candidatos (as) e a saída sempre mais acentuadas, sobretudo, entre os religiosos e presbíteros, com o fenômeno ainda forte da diocesaneidade, o forte clericalismo”.

De forma positiva, há o desejo de ressignificar as realidades, e não só reproduzir modelos consolidados. Buscam-se novos modos, novos métodos, novas respostas, mesmo sem a clareza do que isso signifique. Valorizam-se meios que possibilitam novos encontros, quer com outros institutos, outras culturas, outros métodos (daí a importância de iniciativas interculturais e intercongregacionais). Almejam-se experiências mais sinodais, participativas. Porém, empenhar-se nos processos nem sempre é o mais fácil, pois existe “a dificuldade de viver a corresponsabilidade, a partilha, e preferimos delegar as coisas aos que estão à frente do que pensar e dialogar juntos (as)”.

Se há alguns anos o acompanhamento profissional nas áreas da psicologia e psiquiatria eram vistos com suspeita, tais métodos têm sido assumidos, positivamente, com mais naturalidade, bem como os acompanhamentos espirituais e propostas similares. No entanto, fica no ar o alerta de que o aparato psicoterápico não será a panaceia de nossos problemas. Quanto mais complexas forem as questões mais ampla deverá ser a forma de acompanhamento. Muitos institutos têm investido na preparação para o envelhecimento, possibilitando às pessoas os meios necessários para a reflexão, a oração e o bem-estar.

 Viver juntos (as), eis a questão.

É sentida pela quase unanimidade dos institutos a falta de novas lideranças. “Há muitos vagões e poucas locomotivas”, ouve-se com frequência. Mesmo quando o número de membros é considerável, são poucos (as) com os quais se pode contar de forma efetiva. Cresce em muitos lugares o desejo de novas formas de pertença aos carismas dos institutos. Aumentam os (as) administradores (as) mas não as lideranças.

Ao mesmo tempo, é preciso investir na capacitação de novos (as) líderes. No âmbito da formação, em muitos casos, a (o) religiosa (o) tem de assumir uma etapa de formação sem ter sido devidamente preparada para isso, e o projeto formativo nem sempre está devidamente claro. Há improvisações e choques de mentalidades.

Devemos lembrar da tendência ao ativismo, de agendas preenchidas das cinco da manhã às onze da noite, em que nem há tempo para rezar e estar com quem reside na mesma comunidade. Uma vida no piloto automático, que perde a cada dia sua significação e identidade. Em muitos casos, os rostos estão cansados não pelo empenho no testemunho do Reino, mas por embrenhar-se em atividades irrefletidas. Somado a isso, ocorrem dificuldades em viver juntos (as), entendido meramente como habitar sob o mesmo teto, sem necessariamente formar uma unidade de vida e coração: “É o estar juntos, sem, necessariamente, conviver juntos, conciliando o local e o tempo de um (a)” – alguém destacou.

Há quem perceba certa falta de brilho, uma tendência à comodidade, como nas palavras de uma liderança: “Muitas vezes percebo uma vida religiosa acomodada dentro de nossos conventos, pouca disposição para sair da zona de conforto. Está bem assim, para quê mudar?”. No caso da vida religiosa masculina, a vida diocesana continua como “o canto da sereia”, na busca de mais autonomia, fora da clausura, real ou simbólica.

Temos de lembrar, mesmo que de maneira rápida, que aos institutos denominadas ‘clericais’ somente agora foi permitido elegerem como ‘superior’ um religioso irmão. Em muitos institutos masculinos o religioso irmão ainda é visto como um consagrado de ‘segunda categoria’. Percebe-se uma diminuição no número de religiosos irmãos e na pastoral vocacional nem se chega a mencionar essa possibilidade de consagração. Em outras realidades, pelo contrário, já ocorrem avanços na integração e nas nomeações dos que não são presbíteros.

Mais de uma pessoa que ouvimos lembrou do apego ao poder, o que dificulta as transferências e o engajamento de outras pessoas. Há quem ponha os projetos pessoais acima do projeto comunitário. Do contrário, onde isso se dá de forma mais leve e assimilada, o ambiente se torna mais cordial e o peso institucional fica mais fluido.

Os Institutos dependentes de financiamento estrangeiro vivem uma realidade igualmente preocupante. Um religioso partilha: “há um monopólio europeu quanto às finanças por parte de coirmãos. Acabam manipulando e monopolizando para não haver investimentos devido à descrença quanto ao futuro da presença da Congregação no Brasil”.

Outras pessoas destacaram o adoecimento psíquico na Vida Religiosa. Ansiedade, depressão, grande consumo de medicação (antidistônicos, gastro-estomacais, relaxantes musculares, antidepressivos) têm sido frequentes. Como compensações, há quem destaque o aumento pelo cuidado de plantas e animais. Em muitos casos, isso é motivo de atrito nas comunidades.

Durante a pandemia do novo Coronavírus, – cujos efeitos ainda estamos descobrindo – muitos religiosos e religiosas se viram perdidos em sua missão, afinal, “se a vida é oblatividade, o que fazer estando reclusos (as)?”.  Foi preciso redescobrir a vocação, mas também aumentaram os conflitos internos em muitas comunidades religiosas, bem como as doenças psíquicas. O agravante maior foi a perda de irmãs e irmãos de caminhada, familiares e outras pessoas amigas. A dor e o luto se fizeram presença cotidiana, e não há teoria capaz de acalentar tamanho sofrimento. Neste triste cenário, não podemos deixar de destacar o belo testemunho de muitos irmãos e irmãs nossos que se empenharam, como lhes era possível, no socorro às vítimas da Covid-19, seja com o agravamento da fome, do isolamento social, na presença amiga para suportar as perdas.

A chamada ‘polarização política’ parece ter atingido muitas comunidades religiosas. Se atingiu a sociedade, as famílias, a Igreja, por que não atingiria também a nós? O curioso é que os valores fundamentais do evangelho muitas vezes são trascurados em nome de ideologias distantes das propostas pelo Mestre Jesus.

O Espírito continua a nos esperançar

Para além dos fatores que poderiam nos arrefecer, continua significativo o testemunho de muitas mulheres e homens consagrados. Mais que um ponto de chegada, muitas pessoas se apresentam como “seguidoras do caminho”, lutando contra a acomodação e uma vivência medíocre de uma consagração que não desestabiliza ou questiona. O Senhor Deus continua a chamar, a vida continua a clamar, com novos contextos, novas linguagens e interpretações. O mundo mudou, nosso modo de atuar – sem trair o ideal evangélico – também deverá mudar, a fim de não sermos meras vozes que clamam no deserto.

Muitas pessoas com as quais conversamos destacaram que a vocação se fortalece no contato com a realidade concreta do povo de Deus, na inserção nos meios populares, no compromisso com a Justiça-paz-integridade da criação. Nossas picuinhas e conflitos de convivência poderiam ser amenizados, caso nos devotássemos a uma causa concreta em favor de alguém.

Anteriormente, dissemos da fragmentação das pessoas que chegam à Vida Religiosa. Pois não só internamente, mas como testemunho de humanização, tem sido pedido das pessoas consagradas que sejam “ajuntadoras de cacos”: “Hoje, as pessoas precisam certamente de palavras, mas sobretudo têm necessidade de quem testemunhe a misericórdia, a ternura do Senhor que aquece o coração, desperta a esperança, atrai para o bem, a alegria de levar a consolação de Deus!” (Alegrai-vos, n.8).

A figura do Papa Francisco tem sido um ponto de inspiração para a Vida Religiosa. Os gestos, as palavras, as ações de Bergoglio têm dado à Igreja um novo ar, um novo dimensionamento da consagração. Os jovens que chegam percebem seu testemunho, as mais experientes revigoram seus passos. Em sua Mensagem pela Jornada da Vida Consagrada de 2022, Francisco assim nos provocou: “Enquanto o Espírito leva a reconhecer Deus na pequenez e fragilidade duma criança, nós às vezes corremos o risco de pensar na nossa consagração em termos de resultados, metas, sucesso: movemo-nos à procura de espaços, de visibilidade, de números: é uma tentação. Ao passo que o Espírito não pede isto; deseja que cultivemos a fidelidade diária, dóceis às pequenas coisas que nos foram confiadas. Como é bela a fidelidade de Simeão e Ana! Todos os dias vão ao templo, todos os dias esperam e rezam, não obstante, vá passando o tempo e nada pareça acontecer. Esperam a vida inteira, sem desanimar nem se lamentar, mantendo-se fiéis dia a dia e alimentando a chama da esperança que o Espírito acendeu no seu coração”.

Por ocasião da AGE em 2019, a presidente da CLAR, Irmã Gloria Liliana Franco Echeverri, ODN, (reeleita em 03.06.22) seguiu a mesma linha de reflexão: “A Vida Religiosa Consagrada, imersa na espessura da noite, pode expressar-se em toda sua beleza, sua plenitude e sua autenticidade. Hoje é mais frágil, menor, está mais ferida e limitada, tem menos trincheiras e seguranças e, portanto, está mais apta para pousar o coração no fundamental, para que, com humilde ousadia, possa recriar-se no Deus que faz novas todas as coisas. O papa Francisco, consagrado por vocação e convicção, sabe bem que nosso momento é fecundo e que, nesta noite prolongada, somente a centralidade em Jesus Cristo devolverá à Vida Religiosa Consagrada sua identidade mística, profética e missionária” (IHU 17.07.19).

Como dissemos no início, as ideias que apresentamos não são verdades acabadas, muito pelo contrário. Agora seria bom pensar se esses dados estão presentes em seu Instituto. Que outros elementos vocês acrescentam? Mas a palavra final não pode ser outra do que ‘esperança’, afinal, a fé cristã, a consagração religiosa, não encontram outro fundamento senão na esperança revelada pela ressurreição do Filho de Deus. “No deserto, existe sobretudo a necessidade de pessoas de fé que, com suas próprias vidas, indiquem o caminho para a Terra Prometida, mantendo assim viva a esperança. Em todo o caso, lá somos chamados a ser pessoas-cântaro para dar de beber aos outros. Às vezes o cântaro transforma-se numa pesada cruz, mas foi precisamente na Cruz que o Senhor, trespassado, Se nos entregou como fonte de água viva. Não deixemos que nos roubem a esperança!” (Evangelii Gaudium n. 86).

Para concluir, não nos afastemos de Jerusalém (At 1, 4). Ali, na tarde anterior, fora morto Aquele em quem depositávamos nossa esperança. Porém, a madrugada do primeiro dia da semana (Jo 20,1) ainda não chegou. A impressão é que estamos nesse ínterim, entre o que se foi, e não existe mais, e aquilo que deverá surgir, mas ainda não se manifestou. Uma espiritualidade do Sábado Santo, vivida na esperança, na fé, na confiança de algo novo, de que o Senhor novamente virá em socorro de nossa fraqueza (Rm 8,26). Cabe a nós, mesmo que ainda seja noite, irmos ao lugar onde puseram o Senhor. Certamente, ali teremos uma grata surpresa.

 

Frei Oton da Silva Araújo Júnior, ofm

Equipe Interdisciplinar da CRB Nacional

Belo Horizonte (MG)